terça-feira, 3 de junho de 2014

Belo Horizonte: Marcha da Maconha reúne multidão a favor da legalização

 Matéria publicada pelo Conselho Regional de Psicologia- Minas Gerais

postada em 03/06/2014
 
Quem passou pelas ruas centrais de Belo Horizonte no fim da tarde de sábado (31) ficou impressionado com o número e a diversidade de pessoas que participaram da Marcha da Maconha 2014. Segundo a organização, a manifestação reuniu cerca de 10 mil pessoas que reivindicaram a descriminalização da planta para uso medicinal, recreativo, religioso e industrial, bem como a regulamentação do cultivo, o direito a informações científicas e o fim da política de “guerra às drogas”.

Com criatividade e bom humor, a Marcha da Maconha teve duas marcantes alegorias. A primeira abria a manifestação, representando um cigarro de maconha de 7 metros. A segunda encerrava a marcha com um helicóptero feito de plástico e bambu, que fazia referência aos 450kg de cocaína encontrados pela Polícia Federal no helicóptero do deputado estadual Gustavo Perrella (Solidariedade/MG), em novembro de 2013. As duas foram incendiadas ao final da marcha, em frente ao Palácio da Liberdade, antiga sede do governo estadual.

A alegoria do helicóptero trouxe à tona uma das principais questões discutidas pela manifestação: guerra às drogas ou guerra aos pobres? A Marcha da Maconha questiona a atual política de drogas brasileira, que segue a ideologia norte-americana de "guerra às drogas", implantada pelo governo de Richard Nixon, nos anos 1970, baseada na proibição e na repressão policial. Esse modelo tem provocado o encarceramento massivo de pessoas, não conseguindo conter as redes de tráfico e o aumento do consumo, além de não produzir efeitos positivos sobre a saúde, nem sobre a segurança pública.   

“Hoje, a proibição da maconha é altamente ineficaz, não atingindo seus objetivos e causando graves consequências à sociedade, já que é racista e higienista, na qual as grandes vítimas são negros, pobres e moradores de periferia”, destaca Nilo Victor, também conhecido como Victor Mujica. Um dos organizadores da Marcha, ele explica que se envolveu com a causa em 2010, quando foi aprendido portando maconha.

Victor, que se considera uma pessoa trabalhadora, pai de família, formado em administração e que nunca fez mal a ninguém, conta que ao aderir ao movimento de forma pessoal, descobriu as vantagens sociais que a legalização pode trazer. “Esse é um assunto que está em pauta mundialmente e viemos mostrar que a guerra às drogas é uma guerra fracassada, uma guerra aos pobres. Queremos trazer uma nova política, mais humana, sem repressão e com redução de danos. Como forma de combate ao tráfico de drogas: o cultivo caseiro”, afirma.

Tema em pauta no debate internacional, com a legalização no Uruguai e a regulamentação nos estados norte-americanos de Colorado e Washington, a legalização da maconha também tem ganhado novos rumos no Brasil. Em março desse ano, o deputado federal Jean Willys (PSOL/RJ) protocolou o Projeto de Lei 7270/2014, que regulamenta a comercialização, a produção, o cultivo e o consumo medicinal e recreativo da maconha. No Senado Federal, um projeto de iniciativa popular, que propõe a legalização, entrou na pauta e será debatido pelos legisladores.

Para o integrante do PSOL, Fidélis Alcântara, ainda há um grande mito na sociedade brasileira sobre o uso da maconha e a Marcha é uma oportunidade de desconstruir preconceitos e ideias forjadas. “A Marcha é um momento de trazer esse esclarecimento, explicar que não há como ter uma overdose com o uso de maconha; que o álcool causa mais danos ao sistema nervoso do que a maconha; que essa planta é usada há milênios em várias sociedades como tratamento medicinal; que a proibição é muito recente e se deu por motivos econômicos, não por motivos de saúde. É momento de mostrar que o uso da maconha não deve ser uma questão de polícia, mas uma questão de saúde pública”, reforça.
Saiba AQUI mais informações sobre a Marcha da Maconha Belo Horizonte.

Alas antimanicomial e feminista

Integrando a manifestação, duas alas trouxeram pautas específicas ligadas à legalização da maconha. O movimento antimanicomial, através do Fórum Mineiro de Saúde Mental e da Frente Mineira sobre Drogas e Direitos Humanos, formaram a ala “Maluco Beleza”, defendendo a legalização de todas as drogas, bem como uma clínica antimanicomial para os usuários de álcool e outras drogas. O coletivo Feminista Antiproibicionista organizou a ala “Marias Fumaças”, trazendo para a manifestação as pautas específicas das mulheres em relação à ilegalidade da maconha.

Segundo a psicóloga e militante do Fórum Mineiro de Saúde Mental, Bárbara Coelho, a ala “Maluco Beleza” foi criada em função dos retrocessos que a política de drogas tem sofrido no país, com as internações forçadas dos usuários cada vez mais precoces. “A proibição mata mais do que o uso de drogas. Temos lutado muito contra as internações e os encarceramentos das pessoas”, explica.

O integrante da Frente Mineira sobre Drogas e Direitos Humanos, Guilherme Fernandes de Melo, diz que as pautas da luta antimanicomial e antiproibicionista são conjuntas e transversais. Ele ressalta a importância do tratamento dos usuários em clínicas antimanicomiais: “um cuidado que de fato atenda a esses usuários e não preze nem pela abstinência total, nem pela internação involuntária ou compulsória”.

Para a integrante do coletivo Feminista Antiproibicionista e organizadora da Marcha da Maconha, Nathalia Gonijo, com a Lei nº 11.343/2006, que institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad), houve um aumento do número de mulheres presas por tráfico de drogas, já que tal lei não traz uma definição clara sobre a quantidade de maconha que diferencia o traficante do usuário. “Mesmo quando acontece a prisão do homem, a mulher é quem, geralmente, passa pelo processo na prisão de acompanhá-lo, de levar seus pertences, de passar pela revista”, explica.
Confira AQUI outras fotos da manifestação.




link de origem:http://crpmg.org.br/GeraConteudo.asp?materiaID=3917

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