“O Brasil não oferece alternativas para que as pessoas deixem de usar o crack”. A afirmação foi feita por Carl Hart, professor titular da universidade de Columbia e um dos maiores especialistas sobre o uso de drogas nos Estados Unidos. Ele participou de encontros com pesquisadores, juristas, cientistas e entusiastas sobre o tema, no Rio de Janeiro, além de visitar a “cracolândia” do Parque União.
Primeiro neurocientista negro da Universidade de Columbia, Hart estudou o comportamento de dependentes de crack e concluiu que entre 80% e 90% das pessoas que usam a droga não são viciadas. Durante o estudo, ele oferecia US$ 5 às “cobaias” para que não tomassem uma segunda dose diária de crack. Quando a dose de crack era relativamente alta, normalmente optavam pela segunda, mas quando era menor, a escolha mais provável era a do prêmio alternativo.
“Eles não se encaixavam na caricatura do viciado em drogas que não conseguem resistir à próxima dose. Quando eles receberam uma alternativa para parar, eles fizeram decisões econômicas racionais. Então, eu percebi que o crack não é o real problema, e sim a condição pessoal e social do usuário”, disse o neurocientista. De acordo com ele, se o indivíduo tiver acesso a alternativas, ele, provavelmente, não irá escolher as drogas.
Essa tendência é defendida pelas Nações Unidas e seguida pela CBDD. Inspirado na lei portuguesa, a instituição levou ao Congresso Nacional um projeto que prevê a criação de critérios objetivos para distinguir usuário e traficante, além de deslocar a questão da área de Segurança Pública para a da Saúde e Assistência Social. O neurocientista garante que essa mudança na política evitaria o encarceramento em massa de usuários de drogas, que constitui a maior parte de prisões no mundo.
“Eu quero que entendam que o que o meu país fez em termos de drogas ilícitas foi um fracasso e vejo que o Brasil está seguindo nosso caminho”. Hart afirma que é preciso criar leis eficazes para tratar o consumo ou porte de drogas e não internar usuários. “É terrível a ideia de trancafiar as pessoa em um quarto contra sua vontade, pois eles tem o poder de decidir por si só”.
Para o neurocientista, os políticos são os maiores beneficiados com essa política de repressão, pois lucram ao difundir a ideia de que a droga é o “demônio” do mundo e que é o principal motivo para que as pessoas não estejam bem. “Eu estive na cracolândia do Rio de Janeiro (próxima a Maré) e essas pessoas não tem um problema com o crack, mas com a falta dos recursos mais básicos que são negados a elas, como educação, moradia e qualidade de vida”.
Integrante da Rede Pense Livre que acompanhou Hart durante a visita, Bruno Torturra acredita que a sociedade elegeu o crack para construiu uma caricatura de monstro. “Eles são a antítese do zumbi. São particularmente sensíveis e conectados com o problema a ponto de criar uma sociedade segura entre eles.
O neurocientista esclareceu que ainda é preciso explicar a população sobre os mitos e reais perigos das drogas para que as pessoas tomem decisões conscientes quanto a seu uso. “É mentira a afirmativa de que se fumar crack uma vez você pode se viciar pelo resto da vida e, ao contrário do imaginado, as pessoas podem consumir crack e ter uma vida normal”. Hart citou o exemplo do prefeito de Toronto, Rob Ford, que há alguns meses assumiu que consumia a substância.
Além das conversas sobre uso de substâncias ilícitas, durante a visita ao Brasil, Carl Hart aproveita para promover o livro ”Um preço muito alto”. Na obra, ele conta sua história e afirma que o problema não é a liberdade de consumir drogas, mas as condições sociais que levam muitos ao vício
link:http://www.cbdd.org.br/blog/2014/05/09/o-problema-do-crack-e-a-pobreza-diz-especialista/#more-3166
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