22/08/2012
-
12h51
– FOLHA
DE
SÃO
PAULO
JOHANNA
NUBLAT
DE
BRASÍLIA
Uma
comissão formada por médicos, juristas, pesquisadores e
representantes de entidades apresentou à Presidência da Câmara dos
Deputados, nesta quarta-feira, um pré-projeto de lei que pretende
descriminalizar o uso das drogas.
A
proposta transforma o uso de todas as drogas (hoje classificado como
um crime, mas sem prisão prevista) em infração administrativa,
desde que a quantidade apreendida seja para um consumo de até dez
dias.
A
quantidade máxima de cada droga deve, segundo o texto, ser definida
pelo governo em regulamentação posterior. Em Portugal, por exemplo,
a quantidade máxima para a maconha é de 25 gramas, segundo Pedro
Abramovay, diretor de campanhas da Avaaz (site que colheu mais de 100
mil assinaturas para este pré-projeto).
De
acordo com Abramovay, a ideia é trazer para o Brasil um modelo adota
em Portugal há mais de dez anos, em que o usuário pego com drogas
não é pego pela polícia; é encaminhado para uma comissão de
médicos e juristas, que define multa ou advertência e um possível
encaminhamento para o atendimento médico.
Ele
argumenta que a lei das drogas foi mudada em 2006 com o objetivo de
reduzir o número de pessoas presas, ao permitir que o usuário não
fosse preso. Mas, como a lei manteve o uso como crime e não definiu
quantidades, continua ele, os usuários passaram a ser classificados
como traficantes.
"Hoje,
se você é pobre, é traficante. Se é rico, é usuário. Pela
primeira vez, a droga é o crime que mais prende no Brasil. Passamos
de 62 mil presos em 2006 para 125 mil em 2011", diz ele.
Uma
proposta na mesma linha foi fechada pela comissão de juristas, que
propôs este ano a reforma do Código Penal ao Senado. Lá, segundo
Abramovay, a ideia era descriminalizar quantidades para até cinco
dias, mas não havia a proposta de uma comissão para avaliar caso a
caso.
NÃO
SERIA
CRIME,
MAS
NÃO
SERIA
LEGALIZADO
Abramovay
argumenta que, nos países que descriminalizaram o uso, não houve
aumento de consumo. "Não é a legalização, a liberação.
Podem ficar absolutamente tranquilos, não é uma medida que aumenta
o consumo. Permite que se trate melhor o doente."
A
proposta é encabeçada pela Comissão Brasileira Sobre Drogas e
Democracia, presidida pelo presidente da Fiocruz (Ministério da
saúde), Paulo Gadelha.
"O
mais importante é tirar a ideia de que o dependente de drogas, como
o de álcool e tabaco, é um criminoso. Ele precisa de tratamento",
afirma.
Gadelha
admite que o país, hoje, não tem estrutura adequada para tratar
todos os usuários de drogas, e diz que esse não pode ser um
impedimento. "Temos que nos preparar para atender."
A
proposta foi apresentada ao presidente da Câmara, Marco Maia
(PT-RS), que disse que colocaria a proposta no e-democracia, site
oficial da Casa que promove debates.
Segundo
Abramovay,
a
expectativa
é
que
um
projeto
de
lei
seja
apresentado
entre
o
final
do
ano
e
o
início
do
próximo
por
um
grupo
de
deputados
-encabeça
a
iniciativa
o
deputado
Paulo
Teixeira
(PT-SP),
integrante
da
comissão.
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1141324-comissao-de-especialistas-apresenta-projeto-para-descriminalizar-uso-de-drogas.shtml
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