18 DE MAIO 2013
DIA NACIONAL DA LUTA ANTIMANICOMIAL em BH
Resistência
é o tema acolhido para afirmar a nossa importância, a nossa
humanidade e nossa liberdade.
Resistir para afirmar a autonomia.
Apresentamos
aqui os dois mil e treze motivos para aceitar o irresistível convite
ao Dezoito de Maio, nosso “louco
encanto”.
“Por
uma sociedade sem manicômios” é
o sonho no horizonte que nos faz caminhar na construção cotidiana
da utopia em seus 26 anos de prática e vivências. Reinventar a
existência para interditar a produção da morte manicomial
significa resistir ao conservadorismo e à mercantilizarão da vida.
Viver a arte com outros fazeres para “reflorestar
os desertos do mundo e da alma”.
Em
nosso tempo, a exigência do consumo amplia o abismo entre aqueles
que têm e aqueles que não podem ser. Esse espaço brutal preenchido
pelo abandono, pela fome e pela violação e privação de direitos,
exige coragem para se manter vivo.
Destaca-se nesse
enredo a canção que diz que resistir à violência compulsória,
aquela que impede as escolhas e cerceia a liberdade, é mais uma vez
o convite à invenção de outros modos de existência e nos instiga
a uma acuidade fina para perceber o som que vem das ruas, das
chamadas cracolândias e escutar os dizeres das “quebradas” de
uma cidade que insiste em fazer caber todas as esperanças e o
direito à vida. “Uma
cidade será sempre o oposto do deserto.”
O
Dezoito de Maio marca do movimento pela cidanização da loucura traz
também nesse ano as referências e exemplos de resistência para
lembrar a coragem de Palmares em Zumbi na luta pela liberdade! A
determinação da Palestina Livre que não se perde nem se curva ante
a opressão e a violência financiadas pelos interesses do capital.
E, bem pertinho, no tempo e no espaço, os nossos guaranis, símbolo
da consciência coletiva, somos todos Kaiwoá!!
E
revisitando páginas infelizes da história, em diferentes tempos e
lugares da latino-américa, lê-se entre sombras e linhas: ditaram
duramente que os sonhos envelhecem e que o exemplo de uma vida
extirpada não tem ressonância e nem se multiplica, mas aqui
estamos. Chegamos das margens do mundo para dançar e cantar ao som
dos tambores. Vislumbrando o clarear de um novo tempo, viemos poetar,
esperançar e lutar. Chegamos do ventre das Minas e viemos cobrar:
direita, vou ver o que foi feito dos meninos que sonharam um Brasil
justo e igualitário. E precisamos saber sobre quantas comissões e
verdades serão necessárias, quantas praças ainda para as mães de
maio, qual o preço das lágrimas pelo menino Angel e pelo amigo
Marighella e o que tem a dizer da Violeta e de Jará? És mãe
gentil, pátria amada, dos filhos pequenos deste solo?
As
seis alas do desfile/manifestação 2013 tratarão, com a
irreverência costumeira, os delicados e necessários pontos na
tessitura do pensamento vivo, preciso e contemporâneo sinalizando
modos e saídas que façam valer o direito à vida.
1ª
ALA: A LOUCURA NÃO SE DITA,
DURA
A NOSSA RESISTÊNCIA
A
mais perversa armadilha da alienação é acreditar que “sempre foi
assim” e, portanto, “sempre será assim”. Esta ala homenageia a
todos e todas que de uma maneira corajosa e revolucionária
combateram e tentaram resistir às ditaduras militares na América
Latina ao preço de suas vidas e suas liberdades, num momento onde a
história e a memória estavam proibidas, porque insistiam em nascer
todo dia renovadas.
Ao
buscar preservar a memória da resistência deste período tão
sangrento de nossa história, a ala evoluirá homenageando, entre
inúmeros outros, o papel de vanguarda do movimento
estudantil brasileiro, a lembrança
de Zuzu Angel
e Carlos Marighella,
as heróicas “Mães da Praça de
Maio” na Argentina, que podem ser
as mesmas “Mães da Praça do 18 de maio”, as famosas músicas de
oposição ao regime de Pinochet, no Chile, de compositores como
Violeta Parra
e Victor Jará.
Que
esta homenagem sirva para incendiar outras consciências.
2ª
ALA: A MINHA LUTA É DE SAL DE FRUTA, FERVENDO NUM COPO
D’ÁGUA.
“Nada
deve parecer impossível de ser mudado”. Citando Brecht, esta ala
homenageará diferentes processos de lutas sociais e populares, no
Brasil e no mundo, sustentando consigo as insígnias do inconformismo
e da resistência.
Estas
lutas, que ocorreram em diversos períodos históricos ou mesmo no
momento atual, são empreendidas por diferentes classes, categorias
sociais ou mesmo povos, que lutam pela conquista de seus direitos,
bens ou ainda contra injustiças, discriminações ou atentados
contra a dignidade humana e sempre sinalizam perspectivas de
transformação social.
Tais
lutas ocorrem em diversos fronts:
A
Luta
Antimanicomial,
movimento social composto por diferentes atores sociais, trabalha há
25 anos no cumprimento de sua agenda rumo à superação do
manicômio, ou seja, pelo fim dos hospitais psiquiátricos e pela
inclusão social e protagonismo das pessoas com sofrimento Mental. O
próprio Dezoito de Maio se inscreve na cena urbana para afirmar os
princípios antimanicomiais, convocando a cidade a pensar o caminho
real e possível para a liberdade de todos, ainda que tan tan.
Destacamos
também o movimento dos quilombos, a organização dos negros
escravizados na sua luta pela liberdade, em especial o Quilombo
dos Palmares,
na figura de seu grande líder Zumbi.
Palmares é o símbolo da resistência negra à escravidão que durou
mais de 100 anos e chegou a reunir 20 mil quilombolas. Uma das mais
importantes histórias da resistência à escravidão no mundo. O
maior quilombo de todas as Américas.
A
luta
dos povos indígenas
no Brasil não poderia ser esquecida, em especial a dos Guarani
Kaiowá
dispostos a darem a própria vida pelo direito à sobrevivência na
terra de seus antepassados.
”Sem perspectiva de vida digna e justa, tanto aqui na margem do Rio
quanto longe daqui...” E
ainda que aconteçam os constantes ataques a seus lideres, eles
resistem enquanto povo, enquanto identidade coletiva, e se
pensarmos ao longo dos 500 anos de expropriação e violência letal
imposta pelos invasores e o processo “civilizatório”,
localizamos nos Guaranis Kaiowá, a resistência enquanto vida
.”Como
um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente sermos
mortos coletivamente”(Entre
aspas, trechos da carta dos guaranis ao governo e à justiça do
Brasil)
Um
exemplo internacional de luta tem sido a resistência do povo
palestino.
A partir de uma Resolução das Nações Unidas em 1948, o Estado de
Israel foi criado dentro de um país cujo nome é Palestina. E desde
então os palestinos vêm sendo massacrados e expulsos de sua própria
pátria, perderam a sua independência, o direito de ir e vir, o
direito à autodeterminação, perderam a paz. Apesar dos milhares de
mortos, apesar do que sobrou da pátria corresponder a um quinto da
área original, acima de tudo, porém, o que vemos é a expressão de
um povo que não tem outra escolha a não ser resistir. Afinal, para
eles, a coragem recusa a humilhação.
A
causa palestina nos remete aos movimentos
de luta em defesa da terra, para plantar e distribuir a riqueza, e o
movimento da moradia para todos.
“Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito”.
Todos
os movimentos aqui citados têm como razão de sua existência, a
luta pela liberdade, igualdade de oportunidades, inclusão social e a
dignidade. Todos eles dão mostra que resistir é um ato de coragem e
uma maneira permanente de dizer que o mundo, a cidade, são espaços
diversos contraditórios, e que podem ser território livres e de
direitos para a fruição da vida, a polis complexa e possível ao
existir.
“Temos
uma série de heróis que nem morreu e nem se encantou, mas que
nascem todo dia como os quilombos da Serra com um tambor dentro do
peito e Luanda dentro dos olhos”.
3ª
ALA: CRIANÇA MAL CUIDADA, PÁTRIA MAL AMADA
O
que está Por Vir?
Palavra
é linguagem, grafia, som, representação imaterial, sentido e
referência no cuidar. Acreditamos no poder das palavras, que sejam
falas, que sejam
nomes que não empobreçam a imagem
e acreditamos que medicalizar a infância, seus sonhos e modos de
existir é uma necessidade imperativa da sociedade de consumo para
instaurar o silêncio que embota, desbota, estanca e normatiza traços
singulares dessa fase da vida. Acredito
nas palavras porque só as palavras não foram castigadas pela ordem
das coisas, continuam com os seus deslimites.
Acreditamos
no livre, ousado e criativo trabalho em rede para cuidar da infância
e da adolescência quando diante do insuportável e apostamos em
caminhos mais longos para o correr dos sujeitos, o correr das lutas e
o palavrear que suaviza a dor.
Acreditamos
na escuta para
ouvir nas conchas as origens do mundo e
entender o chamado do novo, voar
fora da asa.
A criança imagina para encher
os vazios com suas peraltagens,
busca saídas para dar sentido ao mundo, brinca e estabelece novas
relações e combinações, resiste, subverte a ordem, faz histórias
para aprender que é possível mudar o rumo estabelecido. O jovem
cria novas maneiras de si mesmo em meio às contradições de uma
cidade que pouco oferece à grande parte de seus infanto-juvenis
cidadãos de desiguais oportunidades.
Cair
nesse duro torrão não impede a esses jovens de virarem as coisas
pelo avesso, criarem cultura para transformar o previsível e não
esquecerem as cores e o tamanho dos sonhos.
Expostas ao estímulo do consumismo e assédio midiático, uma formulação se coloca: criança não é celebridade, mas tem identidade!
Expostas ao estímulo do consumismo e assédio midiático, uma formulação se coloca: criança não é celebridade, mas tem identidade!
Crianças
e adolescentes seriam uma raça de heróis que vai salvar a terra?
Talvez não, mas bastava salvar esse tempo, salvar esse sonho, salvar
a meninice, essa vida em flor, pronta para transformar dores em
cores, desesperança em poemas, consciência em hip hop, as privações
em manifestações políticas, saraus em outras histórias e a vida
em uma deliciosa brincadeira!
Acreditamos
no potencial transformador para
fazer o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo,
pois liberdade
e poesia se aprende com criança.
Que
venha o futuro e que sigam adiante, os meninos e meninas, numa
teimosia poética que resiste sempre!
4ª ALA: NÃO ME
IMPORTA SE A RIMA É MANCA: O QUE EU QUERO É POETAR. SE MEU DELÍRIO
A MONOTONIA ESTANCA: EU QUERO MAIS É DELIRAR
Usando
as palavras de Eduardo Galeano, os delírios e alucinações,
apresentados nesta tradicional ala do nosso desfile, resistem
enquanto direito, insistindo em existir apesar de toda a parafernália
biologicista e das neurociências criada para contê-las. Estas mais
criativas manifestações da subjetividade humana são o exemplo que
mesmo em meio a turbulências, sofrimento, desamores e violência, o
homem continua a sonhar.
Este ano, atendendo
ao apelo deste escritor uruguaio, a Escola de Samba Liberdade Ainda
que Tam Tam propõe ao mundo que “deliremos” juntos. Que tal
pensar um dia em que a guerra se renda à paz? Em que o mundo não
estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza e a
indústria militar não terá escolha a não ser decretar falência?
Em que a TV deixe de ser o membro mais importante da família? Em que
os políticos não acreditem que os países adoram ser invadidos e
que os pobres adoram comer promessas? Que tal pensar um dia em que as
crianças de rua, não serão tratadas como lixo, pois não existirão
crianças de rua? Em que a educação não será privilégio daqueles
que possam pagá-la e a polícia não será a maldição de quem não
possa comprá-la? Enfim, que tal pensar um dia em que a justiça e a
liberdade, irmãs siamesas condenadas a viver separadas, novamente
juntas, de volta bem grudadinhas, costas com costas?
“A
utopia é como o horizonte. Nós o vemos, ao longe, nunca o
alcançaremos, mas serve para que continuemos sempre a caminhar”.
5ª
ALA: DA OUSADIA DO SONHO: BORDAS DE PRATA
Bordando
sonhos para realizar a utopia “Por uma sociedade sem manicômios!”
Esse
é o convite à resistência que o fazer rede substitutiva nos
convoca nos 365 dias do ano. Subentende-se a superação dos desafios
num exercício clínico que exige leveza, sensibilidade, escuta,
alegria, rede ampliada, responsabilização conjunta,
intersetorialidade, invenção, reinvenção.
“Redeeditar”-
a rede de estar - reconstruir a rede de relações como forma de
resistência.
Bordas
de prata é a nomeação sensível ao exercício de reflexões acerca
dos vinte e cinco anos da experiência substitutiva aos hospitais
psiquiátricos em Minas. Da pioneira Itaúna, passando por João
Monlevade até Brumadinho, chega BH para alcançar tantas outras
cidades e equipes que transformaram sua prática e se revigoraram
pela ousadia renitente produzindo assim sentido à existência de
tantos usuários e a si mesmas.
Bordados
em prata, bordados em cinza, do verde à esperança resultaram em
tantas cores, outras formas de abordar e bordar... A construção de
laços com aqueles ditos que não faziam laços!
Nesse
cotidiano dos alinhavos-articulações até chegar à borda que dá o
contorno, um sentido se produz: a vida pode ser bela, a loucura pode
ser livre!
E,
ante ao monocromático desfocado ou a pouca luminosidade para
perceber o que pode ser ou por onde seguir, necessárias são as
reflexões entre os aprendizes da incerteza para provocar o
pensamento onde borbulha a vida em cores. De Almodóvar ou Mondriam,
com os traços Dali e acolá, laços, enlaces, possibilidades e
invenções de um ponto ao outro, no caso a caso de cada dia para
desenterditar a produção do desejo.
As
perguntas que se cruzam no cotidiano do trabalho antimanicômio,
devem habilitar o pensamento dos trabalhadores e usuários de nossas
redes:
Quando
dançamos pela última vez?
Quando
paramos de duvidar de nossas certezas?
Quando
foi a última brincadeira?
Qual
a última vez que compartilhamos nossos medos e (ou) nossos sonhos?
Temos
reinventado a vida quantas vezes ao dia?
Que
a partir dessas reflexões se configure o convite à esperança e à
reinvenção. E para fechar a cena, os aplausos de pé aos que
sobreviveram à anulação da vida e que hoje habitam os SRTs, uma
das instituições inventadas que faz reviver a riqueza do objeto
para a travessia à condição de sujeito.
Necessito
tecer... O gesto de bordar me ensina que estou inventando uma outra
ordem.(Mia
Couto).
6ª
ALA: POLIS-PHONIA: EU, VOCÊ E VOZES MESMO
Estou
em todas as vozes, ouço todas. Vozes múltiplas de todos os ventos,
vozes que guardamos, vozes incomodadas com a batuta de uma nota só,
vozes que ensinam que é bom cantar junto.
Nos
últimos anos, em BH, deu-se início a um processo de reestruturação
dos espaços da cidade consonantes com as tendências contemporâneas
de uso e desuso especulativo e mercantil, sem contar o investimento
ostensivo no monitoramento que se espalha por todos os lados. Tais
intervenções pretendem sufocar o encontro espontâneo dos
indivíduos nas ruas e o livre uso dos espaços públicos. As pessoas
não tem podido experienciar as ruas e as praças plenamente.
O
loteamento e aburguesamento das áreas das grandes metrópoles
recapitaliza os espaços urbanos colocando a cidade na condição de
mercadoria. Tem-se desse modo uma verdadeira ficção de lugares
coletivos, eliminando as memórias culturais urbanas, provocando a
perda dos mapas mentais de seus habitantes.
“Oh
margem, reinventa o rio”.
Em
tempos de higienização, poluiremos com a liberdade e a arte.
Os
movimentos urbanos representam a resistência ao massacre das
identidades e ao sentido de pertencimento a um lugar geográfico ou
simbólico. Se “a casa é um documento autêntico da vida do
homem”, a cidade também documenta identidades. Nesse lugar e nas
relações que estabelecemos nele e a partir dele, é possível nos
inventarmos e assim reinventar outros modos de viver e resistir para
não abrir mão de si e do eu coletivo.
Contemplando
as singularidades dos antigos e dos novos agentes históricos,
diversos movimentos urbanos de resistência e a ética da resistência
aqui se apresentam:
Em
Belo Horizonte, nas praças e na grama proibida dos jardins, o Vira
a Lata é o sarau itinerante que
difunde o livre manifesto da poesia e desdobra em leveza a
diversidade e a democracia. Ocupar é a agenda da cidade, com uma
produção cultural repleta de eventos artísticos, expressando a
importância de resistir a uma política vazia, dominada e pouco
satisfatória.
No
céu do azul da Ocupação Dandara,
a negação dos direitos à moradia e a injustiça estrutural não
impedem o canto e a organização que constrói o cotidiano da
resistência na luta pela vida e dignidade.
A
Ocupação Eliana Silva,
contrariando interesses, funda sua biblioteca comunitária para
manter o acesso ao conhecimento como símbolo da luta e resistência.
No varal de seus cordéis, as narrativas poéticas trazem luz ao
endurecimento da realidade para seguir na luta pelos direitos
cidadãos, dentre eles, a moradia.
E
em Minas agora tem praia, com gente de todos os cantos, com caras e
expressões que ocupam a Praça da
Estação, um ponto da história e
memórias que fazem a cidade. Um decreto proibitivo acerca da
ocupação daquele espaço mobilizou pessoas que daí fizeram nascer
um novo e irreverente modo de viver a cidade em sua fruição. O
convite sem receio aos movimentos internáuticos e tantas outras
manifestações, demonstraram que não há, como alguns pensam, um
conformismo político generalizado. Entre o possível e o desejado, a
cidade pode acolher sonhos que faz da Praia
uma Estação de invenções para
reunir afetos, provocar encontros.
Os
MCs
em sua manifestação artística do hip hop ocupam o Viaduto
de Santa Tereza e duelam
modos de existir e resistir. Nos últimos cinco anos esse reduto
especial do Centro de Belo Horizonte é invadido por centenas de
adeptos do Hip Hop, resgatando as origens do verdadeiro movimento de
rua. Os MCs levam sua vida em sua voz quando improvisam e denunciam
desafiando as rimas, revelando a similaridade entre resistência e
revolução.
Outra
Cena: sou uma voz que denuncia o furo na cidade enquanto sociedade, o
fracasso das quase invisíveis políticas públicas. Voz que para se
fazer ouvir precisa do risco, da quebrada, do escuro da noite, da
sarjeta coletiva. Por isso, o perigo pra ter você comigo.
São
lugares e pessoas que precisam de poesia para não virar pedra.
“Porque você me deixa tão solto? Porque você não cola em mim?”
Apelo atendido. Lugar desse encontro? Cracolândias
e Consultórios de Rua,
onde “posso me ver para você me olhar”. E aí, resisto na
querência de juntar o antes, o agora e o depois e querer a vida para
brincar de pipas, voar nas asas de meu sonho Ícaro, reconstruir,
catar o que deixei pelo caminho. Não sou a voz compulsória: sou
água que corre entre pedras. Liberdade caça jeito!
Nesses
cenários de mobilizações, que se iniciaram de formas distintas, e
não raro isoladas mas que acabaram por se comunicar e interagir,
criaram-se parcerias que atualizam um forte movimento de resistência
urbana. Ocupar os espaços públicos para transformá-los em lugares
de pleno habitar.
Na
tradição do hip hop, no brilho do grafite, nas brigadas e levantes,
nas luzes artificiais da Babilônia e nas diferentes ocupações com
o mesmo propósito, BH escuta a poesia das ruas e insiste na canção
que sua alma e seu povo sentem no ar.
Belo
Horizonte, março de 201
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